28 de janeiro de 2010

Má notícia: morre J.D. Salinger

O mundo literário perdeu um de seus maiores nomes da contemporaneidade: o americano J.D. Salinger, autor da obra O apanhador no campo de centeio, morreu hoje, após quase 50 anos vivendo recluso no interior de New Hampshire. Segue abaixo a notícia, veiculada no ClicRBS:


Autor de "O Apanhador no Campo de Centeio" morre nos EUA

J.D. Salinger tinha 91 anos

Jerome David (J.D.) Salinger morreu nesta quinta-feira em Cornish, no estado norte-americano de New Hampshire, aos 91 anos. Segundo o filho do escritor a morte teve causas naturais.

Salinger ganhou notoriedade em 1951, após escrever seu primeiro romance, "O Apanhador no Campo de Centeio", que já vendeu mais de 60 milhões de cópias e é cultuado por adolescentes em várias partes do mundo. O culto ao romance ganhou contornos trágicos em 1980 quando o assassino de John Lennon, Mark Chapman, afirmou ter a obra como inspiração.

O escritor vivia há décadas em isolamento em New Hampshire. Não assinava uma obra desde 1965, e não dava entrevistas desde 1980.

Das amizades

Ontem à noite, fui ao Beira-Rio assistir à avassaladora vitória colorada por 5 a 0 sobre o Juventude. Pobre papada, que no momento está com um time muito fraco. Já foram bastante melhores! O Inter se aproveitou disso e tocou mais uma goleada irresistível. O jogo alternou bons e maus momentos, mas os bons se tornaram superiores.
Acompanhei o Manera, o Vicente e o Feiden nessa jornada. Há horas não os via. Nada como um estádio pra buscar as velhas amizades. O Manera e o Feiden foram meus colegas de colégio. Imagine: esse ano faz uma década que me formei no Sévigné. Por menos próximos que estejamos, conseguimos manter uma certa cumplicidade, o que nos faz manter essa relação por um longo período. O Vicente é irmão do Manera, pra quem frequentemente empresto minha carteira, a fim de que o filho dele possa ir aos jogos. Tudo bem que nunca ganhei nada com isso, mas emprestava. Pra quem não sabe, é aquele ser que não para de falar no vídeo Nada vai nos separar, produzido pelos 100 anos do clube, com depoimento de torcedores.
Dez anos de formatura. Em dezembro, possivelmente haverá comemoração. Mas que serão aqueles caras que encontraremos lá? Há alguns que nunca mais vi. Outros andaram se encontrando no sítio da Laura, ex-colega, em meados do ano passado. Mas creio que fosse a metade dos que se formaram, nem isso. Haverá aqueles que sumiram pós-formatura? E os que se formaram? Os que não fizeram absolutamente nada? Os aventureiros? Os trabalhadores e os desocupados? Independentemente disso, sabemos quem foi cada um que esteve conosco naquela jornada.
Quero ir mais ao estádio esse ano. É ano de Libertadores. Além disso, as companhias ajudam bastante no caminho. É legal perceber que muitos deles conseguem manter a amizade tal como era no colégio. Assim como é uma pena eu não conseguir fazer o mesmo.

27 de janeiro de 2010

Leituras obrigatórias

Leituras obrigatórias são complicadas para a criança e o adolescente. Dizer que "devem" ler tal obra é difícil, na medida em que a leitura é um entretenimento como o cinema ou a música. O grande problema é que o livro vem perdendo força com o tempo, pois é o meio mais lento de se agregar cultura - apesar de, na minha ótica, ser o mais eficiente enquanto formador do indivíduo.
Uma coisa me alegrou hoje pela amnhã. Lendo a Zero Hora, no caderno Vestibular, saiu uma listagem de livros feita por especialistas (disponível aqui), em que as obras ali colocadas entram de acordo com várias que vou trabalhar esse ano ou já trabalhei. Felizmente, ao menos em relação a isso, meu trabalho não está tão distante do que parece o mais apto para a gurizada dos 14 aos 18, maioria de meus alunos. Obras como Auto da barca do inferno, O caçador de pipas e Boca do inferno estão presentes tanto na minha quanto na lista desses pensadores.
Naturalmente, há algumas coisas que me intrigam. Há um livro que fora lançado na França em 2006, cujo título me foge no momento. Quando as editoras que contatam escolas oferecem livros para que trabalhemos, inventam sempre de mandar os clássicos - Dom Casmurro, Iracema, O cortiço etc. Esquecem que os educandos não tem muita paciência para esse tipo de leitura - e muitos educadores também não! -, fazendo com que a real arte produzida no Brasil não passe de um lixo de vendas superficiais. Muitas edições, inclusives, são péssimas. Por que será que nunca enviaram um livro como o francês mencionado? Ou um outro que por tema ou estética se aproxime do que a gurizada lê?
Faz-se necessária a tentativa de buscar o novo. Viver obrigando a leitura de clássicos não fará a sobrevivência do livro. Eu ainda quero que meus alunos aprendam muito pela Literatura, mas precisarei colaborar para que isso ocorra. Nesse ano, já há mais livros próximos de suas realidade. Espero que no ano que vem aumente.

26 de janeiro de 2010

Escrever = Narrar?

Desde que coloquei no ar o A hora de José Ramiro, apenas uma postagem foi feita. Um único texto, ou fragmento desse, fora postado há alguns dias. Como fui para o litoral e dificilmente consigo me concentrar numa lan house para isso, deixei apenas aquele. Nessa semana pretendo colocar mais duas partes. Tomara que consiga.
Isso me suscita uma coisa curiosa. Fui questionado sobre por que eu não escrevia quase nada de ficcional há tempos. Acho que minha cabeça literária tinha apagado durante um tempo. Resolvi reatar um pouco desse caminho com esse texto - que, aliás, está todo estruturado na minha cabeça, mas, como os detalhamentos saem na hora da escrita, demoro a compô-lo.
Sendo assim, escrever não é bem o mesmo que narrar. "É só tu sentar no computador e escrever!" - Primeiramente, se eu sentasse no computador, certamente o destruiria. Depois, não se brota a ideia de forma tão simples. O primeiro post demorou quase uma hora pra ser exposto - e, se tu leste, deve tê-lo feito em uns dois ou três minutos. O trabalho da escrita, de uma composição narrativa, não é como escrever num cheque ou deixar um recado pra alguém. Se bem que seria interessante compor um livro através de pequenos recados, né?
Escrever flui com mais facilidade. Narrar exige tempo, atenção e mais técnica. Não quero sair expondo um texto que, por menos leitores que tenha, seja uma grande porcaria.

24 de janeiro de 2010

Jogando por pizza

A última vez que li um livro que tratasse sobre um tema esportivo foi há anos. Não lembro exatamente quando. Tenho em casa alguns bem interessantes, como O império do contrataque e afins. Esse eu li quando tinha uns 11 anos. Tenho também a história do futebol gaúcho até os anos 90, cujo qual li também em tenra idade. Resolvi, como anunciei há dias, ler Jogando por pizza, do John Grisham.
Primeiro, uma pausa: ao ver a quantidade de páginas, resolvi que leria, primeiramente, O abismo, uma obra infanto-juvenil. Um grupo que passeava em Bonito (MS) e acabou se envolvendo num grave acidente. A obra, porém, acabou não me atraindo muito - não no momento, ao menos. Deixei-a de lado, após umas quarenta páginas lidas e resolvi encarar o Grisham. Meu preconceito contra bestsellers não é tão pequeno, mas ainda assim resolvi investir. Lucro certo.
Também o futebol americano não é minha praia. Choques constantes, excessos de brutalidade. A obra, contudo, coloca um outro lado da questão: um jogador brutalmente agredido que acorda num hospital, após ter perdido o Super Bowl. Não foi uma derrotada singela: seu time perdeu por sua causa, graças a três lançamentos interceptados que resultaram em touchdowns. Escurraçado, foi mandado para a Itália, onde nem havia o tal esporte profissionalizado. Em todo caso, foi um encontro de retomada de vida: a convivência com os italianos não tinha a frieza americana, muito menos faziam as coisas por dinheiro: tudo era movido a paixão. Comida, companhia, conversa, o time do Parma Panthers. Rick, o protagonista, pensa se meter numa grande enrascada no início, mas acaba por gostar da localidade e apreciar tudo que lá havia. Ajuda na campanha do time, que nunca chegara à final do Super Bowl italiano, e vencem o campeonato.
Um livro de enredo bem simples, mas que destaca muitas coisas que pouco observamos nesses milhonários jogadores que habitam nossa cultura. Quem está por trás de um Nilmar, um Victor, um Ronaldinho ou um Messi? Que tipo de vida levam e a que ponto chegam? E aqueles de quem nunca ouvimos falar? Quem foi Flaviano, agora um destaque do Esportivo de Bento, e quem era agora? Não por mera curiosidade, mas por uma questão bem mais profunda: seres que saíram das profundezas da sociedade para o ápice financeiro que muitas vezes nem sonharam em ter. Outros que da mesma origem fizeram sua vida, avançando muito pouco para o lado glamouroso e conquistando suas coisas à medida de muito trabalho. Quem são e o que somos pertante eles?
Lendo um pouquinho de Jogando por pizza acabremos descobrindo. E poderemos perceber um pouco mais, um pouco daqueles nossos sonhos juvenis de nos tornarmos atletas tal qual eles. Será que teríamos uma vida realmente boa dessa forma? Só jogando por uma boa pizza chegaremos às conclusões.

23 de janeiro de 2010

Do encanto: Metal e Literatura

É sabido por parte de alguns elementos que pretendo realizar minha tese de doutorado envolvendo a literatura com o heavy metal - apesar de estar tendo algumas ideias mirabolantes nos últimos tempos. Nos últimos dias, assenti mais a ideia, ainda mais após ter escutado algumas bandinhas que nem fazia ideia da existência, como Saurom Lamderth, Soulspell e Dragonfly.
Dificilmente vemos música metal em outra língua que não o inglês. Bandas brasileiras, suecas, finlandesas, alemãs, holandesas e outras puxam um sotaque britânico ou americanizado para suas cantorias. Soulspell também o faz. Além disso, através das letras, criou um enredo que nos faz acompanhar todas as músicas apenas para saber o final da história. Já se fizera isso no Temple of shadows, do Angra, em que se narra a aventura de um guerreiro da Idade Média e seus conflitos sobre seguir o que os católicos querem e o que julga correto.
A banda Blind Guardian também o faz, ao representar o Silmarillion, de J.R.R. Tolkien, no álbum Nightfall in the Middle-Earth. Conta-se a história da formação da Terra-Média, seus principais personagens e suas vidas. Já em língua espanhola, o Saurom Lamderth conta O senhor dos anéis. Narra desde o concílio do anel até a queda de Sauron, destacando heróis como Aragorn e o próprio Frodo. Sâo narrativas interessantes não apenas para serem lidas, mas escutadas.
Outra banda muito curiosa é a Dragonfly. Metal espanhol eu não conhecia e, diga-se de passagem, gostei muito do que escutei. Não que contenha histórias compostas por algum álbum, mas a estrutura das músicas faz o mesmo que Nightwish já fizera: lança-se curtas histórias de personagens ou de lugares, remontando aspectos míticos e sociais. Vale a pena escutar!
Enquanto isso, aqui no litoral, vou pegar o note e escutar alguns desses elementos. Afinal, não dá pra aguentar só funk e pagode no ouvido o tempo inteiro.

22 de janeiro de 2010

A hora de José Ramiro

Gente, ainda é experimental, mas já comecei minha nova obra ficcional. Vocês podem acessá-la clicando aqui.
Esse texto pretende mostrar as complicações que um homem comum pode ter ao se envolver em um crime, mesmo que nada tivesse a ver com ele. Pretende-se utilizar bastante carga psicológica, reminiscências, além de uma pitada de mistério. A hora de José Ramiro será um texto que tentará cativar o leitor. Espero que consiga!
Boa leitura!


Segue novamente o link de A hora de José Ramiro.

Hugo Chavez vs. PlayStation

Há alguns dias, li essa notícia:

"O presidente da Venezuela Hugo Chávez disse nesta semana durante o programa “Alo Presidente” - pronunciamento oficial do governo - que o videogame PlayStation, da Sony, é um veneno para as crianças. Segundo ele, os games ensinam a matar servem de entrada para o mundo do capitalismo.
Também foram alvo de críticas as características e rostos de bonecas como a Barbie. Chávez exortou os fabricantes locais a produzirem brinquedos educativos e bonecos semelhantes ao povo venezuelano.
Segundo o site “Sony Insider“, o trato do presidente à marca Sony “machuca” a empresa. A expectativa agora é para ver o impacto que as declarações terão na região sobre as vendas de produtos da linha PlayStation." (Postado por André Crespani, às 13:55, no blog Infoesfera, do ClicRBS.)


Talvez você lembre que, no início do blog, postei sobre a relação entre literatura e videogame, a fim de identificar suas virtudes para o ensino escolar. As técnicas narrativas trazidas pelos jogos podem - e devem - influir na construção mental de um enredo na mente de cada jogador, fazendo com que individualmente inúmeras histórias sejam criadas - que é basicamente o mesmo efeito gerado por um livro, ao recriarmos em nossa cabeça a história que lemos. Óbvio que há diferenças gritantes, levando em consideração que o imaginário gerado pelo jogo virtual alcança menos possibilidades que o livro traz, mas já é um começo para gerar bons efeitos.
Eis que nosso glorioso vizinho Hugo Chavez resolve falar sobre a "entrada no capitalismo" que o PlayStation gera. O mais curioso é que trata exclusivamente desse console, deixando de lado o Nintendo DS, o Game Boy, o Xbox, o Wii... Talvez porque o apelo popular na Venezuela para com os concorrentes não seja tão grande, mas esses também gerariam a tal promoção do capitalismo. De qualquer forma, creio que a argumentação de Chavez, caso se embase apenas na questão capitalista, é muito fraca. A tentativa de isolar os venezuelanos da - antiga e talvez mal feita - ordem capitalista é o mesmo que dar um tiro no pé, pois o próprio país ainda segue tais preceitos quando compra armamentos militares de outros países para se proteger de uma suposta invasão ianque. Aposto, inclusive, que ele não distribuiu as armas entre os populares e nem deve ter aludido à possibilidade de os mesmos usarem nessa tal possível invasão. Vai se entender...
Concordo que há jogos que não acrescentam muito em questões morais e éticas, como os GTAs ou o Bully - que também curiosamente são da mesma fabricante -, já que deturpam a sociedade - a qual é feita sobre leis antigas, sabemos, mas que auxiliam no bem estar comum. No entanto, desde a mais tenra idade, o indivíduo está presente no meio social e aprendendo em todos os âmbitos - em casa, na escola, na rua, na televisão, no videogame, no esporte -, criando uma consciência social que, em ampla maioria dos casos, não gera seres apenas corruptores, mas dialógicos sobre sua existência.

21 de janeiro de 2010

Resquício de reconhecimento

Talvez o termo "resquício" menospreze um pouco o que vem a seguir. Como é o primeiro reconhecimento espontâneo que recebo por parte de um escritor, vou tratá-lo assim. Quem sabe na sequência dos atos vire um poço disso, né?
Como fora lido, mantive um gostoso contato com o Nei Duclós. Eis que ele publicou em seu blog nosso diálogo. É realmente para ficar satisfeito!
Aproveitando esse tema, lembrei de algumas coisas muito interessantes: fui aluno do Luis Antônio de Assis Brasil, esse mesmo que todo mundo lê na escola, como leitura obrigatória para vestibular, como aquele que ganha concursos e tal. Ele tem um baita trabalho na formulação de textos, uma busca histórica fascinante para a construção de enredos e personagens. No entanto, não é um texto que realmente me encanta. Não fico abismado ou plenamente deliciado quando o leio. Li em outros tempos o Concerto campestre, Anais da província-boi, Cães da província e alguns fragmentos do A prole do corvo. Certa vez, convidei-o para palestrar no curso pré-vestibular em que trabalhava, para tratar da então novidade da UFRGS, que era o Concerto. Muito gentil e cordial, pediu para que houvesse a palestra em forma de diálogo, a fim de explorar melhor a obra. Como as perguntas não vinham, fomos obrigados a falar um pouco de sua obra, para então essas aparecerem. Foi um papo muito bom, mas aquela sensação de que não tratava sobre obras que realmente me agradavam pairava constantemente. Enfim, apesar da grande experiência - minha primeira mediação de palestra e com um autor de renome -, queria que pudesse gostar um pouco mais desse cara que é tão lido.
Enquanto isso, o outro, que andava fora do circuito de leituras, foi realmente muito bom de lê-lo. É uma pena que não more em Porto Alegre e não consiga levá-lo para uma entrevista em escola, quem sabe até adotar uma leitura sua. Custa grana e as instituições escolares não tem pago esse tipo de evento.
Se bem que não é nada que a internet não resolva, afinal, pra que servem webcam e microfone, né?


Se quiseres ler o que Nei Duclós expôs, clique aqui.

Da votação

Aos visitantes que leram textos aqui nos últimos tempos, devem ter visto que houve uma breve votação sobre qual ou quais assuntos gostariam que fossem tratados aqui. Interessante ter percebido que há elementos buscando pontos de vista sobre assuntos fora do mundo literário. Ok, far-lo-ei. Sabe-se, porém, que meu foco ainda é uma boa análise de livros, simples, modesta, mas sofisticada, pra reatar um pouco esse laço entre os leitores e os livros.
A propósito: pretendo começar hoje a leitura de Jogando por pizza, do John Grisham. Há muito tempo que não pego um livro que trate sobre esportes, relação de jogadores com torcida e clube, entre outros. Aliás, faço poucas leituras desse gênero, apesar de gostar muito de futebol, vôlei, natação, corrida de carros. É um livro um pouco mais longo, quase 300 páginas - distante do que realmente gosto, entre 100 e 150, pra ler em uma ou duas sentadas -, mas espero não demorá-lo para falar pra todos.
Enquanto isso, buscarei alguns assuntos diferentes pra ir tratando. Que tal o jogo de ontem do Inter B contra o Porto Alegre? Ah, não, foi um jogo muito chatinho de ver.

Aurora privilegiada

Quando leciono argumentação aos meus gloriosos educandos, digo que existe uma forma de convencimento que é baseada em pessoas reconhecidas pela sociedade, aceitas pelo grande público. Ao citarmos Aristóteles, Rousseau, Roosevelt, Saramago, até o nosso presidente Lula (!), podemos esclarecer certos pontos de vista e ideias sobre determinados assuntos.
Hoje, acordei, vim ler meu blog, e me senti um privilegiado. Ontem, tratei um pouco sobre textos referentes à ditadura e expus um pouco sobre o Universo baldio, do Nei Duclós. Eis que, ao ver que havia comentários sobre o texto, descubro que são do próprio autor. Ainda bem que leio os vivos, para que possam um dia ver o que falam a respeito deles. Tudo bem que alguns nunca lerão que escrevo aqui - vide Saramago -, entretanto notei um ar de louvor ao ler um pouco mais do autor de minha última leitura.
Sobre a argumentação: quem sou eu pra tecer maiores comentários quando um renomado escritor diz que seu blog tem algum conteúdo útil a ser lido?

20 de janeiro de 2010

Do cerco à perdição

Sempre escutamos histórias sobre como a ditadura foi complicada para a massa que queria a democracia para o país. Repressão, prisão, humilhação. Um país afogado em dívidas e um povo afogando as próprias palavras. Na literatura, houve muito destaque pra isso.
Há um bom tempo atrás, apresentei um trabalho no Seminário de Crítica Literária, na PUCRS, que tratava sobre o assunto, mais especificamente sobre a questão do herói degradado nessa época. Meu objeto de análise foi um livrinho do Arnaldo Campos, bem curtinho, chamado Réquiem para um burocrata. O enredo relata sobre um funcionário público que, no auge da ditadura, é convocado a prestar depoimento na polícia. Não sabe o real motivo, mas sua paranoia se perpetua no decorrer da narrativa, graças a uma singela presença numa roda de subversivos, numa dada noite. Com medo de que os militares descobrissem, ele evita falar no assunto, a presença de pessoas suspeitas, sua própria família. Lembra, com muito carinho, apenas da Princesa, sua cadela que falecera há pouco. Perdido em memórias e traído pelo destino, entrega-se à loucura, perdendo todo o senso da realidade. Resultado de uma sociedade opressora e mal regida.
Li ontem Universo baldio, do Nei Duclós, e me lembrei disso. O enredo também gira em torno da ditadura, mas sobre um grupo que fugiu de Porto Alegre e tenta a vida na praia de Itaguaçu, praticamente inóspita, em Santa Catarina. Alguns drogados, outros apenas desempregados, ainda os bitolados. Não havia uma alma que fosse trabalhador comum, que se contentasse com a situação. Alguns até o eram, mas pareciam mais invadidos pelos entorpecentes e acabavam assim. Luís, o protagonista, perde-se em viagens interiores, levando-o de encontro a Honório de Lemos, general gaúcho revolucionário, que o guiará de volta a sua vida.
O enredo parece muito aéreo, contudo traz representações significativas para quem lê: a questão do encontro consigo, o qual muitos já perderam o caminho, mas que Luís acabará trazendo à tona. Um dia, nos fins de 1960, um revolucionário, um lutador contra a repressão; poucos anos depois, um drogado que pedia esmolas e fazia poucos serviços em Itaguaçu; deixara faculdade da UFRGS para viver de música; queria ser escritor, mas mal colocava palavras num guardanapo. Quem era Luís afinal? Quem ele queria ser? Em quem ele se tornou? O livro discute esses aspectos e relança o personagem na sociedade, já sem repressão, sem domar suas ideias, que agora já não mais serviam.
Comprei esse livro numa loja de 1,99. Já me valeu bem mais do que paguei. Partir dessa obra para reflexão sobre quem somos também vale como possibilidade. Afinal, não adianta apenas nos questionarmos constantemente sobre isso se nem conhecemos realidade alheias, sejam essas reais ou literárias.

18 de janeiro de 2010

Da longevidade

Como estou no litoral e torrando grana numa lan house, não tardarei com o post. Li ontem o Memórias de minhas putas tristes e fiquei refletindo um pouco sobre as questões da longevidade.
O narrador-personagem, sempre chamado de sábio por todos com quem conversa, é um homem solitário que quis se dar um pequeno presente de 90 anos: transar com uma virgem. Passou a vida inteira em puteiros, prostíbulos e derivados, não casou e não teve filhos, sempre escrevendo para um jornal local. Vivia de uma palpérrima aposentadoria, da qual destinava alguns tostões para sustentar uma empregada - que sempre fora apaixonada por ele - e para suas contas. Reservou grana e foi atrás de uma mulher.
O resto do enredo pode ser lido por vocês posteriormente. É um livro muito interessante, apesar de um pouco morno. Para quem gosta de Gabriel García Márquez, que faça a leitura! Há aspectos muito úteis a serem observados: o homem de 90 anos não age como julgamos alguém com tal idade: é ativo, trabalha, sonha e se apaixona. Dá-se conta da idade apenas mais tarde, quando sente dores que não curam simplesmente. Apesar disso, não deixa de realizar suas atividades, dentre as quais cuidar de um gato, que ganhara de aniversário. A vida parecia ir se renovando em seu fim, para que não se cumprisse o simples ciclo de rotação da vida. Inconfidência: o homem não morre no fim. Nem começando o enredo no fim da vida há esse fim.
Os idosos que buscam ativar a vida devem ser valorizados. Lembro de uma reportagem veiculada no RBS Esporte há uns meses: um senhor de 90 anos - se não me engano - que pratica tênis todos os dias. Físico de dar inveja a homens de 50. Magro, forte, exemplo de quem vai contra a maré do tempo. E isso deveria servir de exemplo a todos que querem, senão uma vida longínqua, uma morte tranquila.
Saibamos que aproveitar a vida não se restringe a se esbodegar por aí, encher a cara, rir de piadas esdrúxulas e deboches constantes para com todos: reina sobre isso a ideia de que há felicidade em todas as ações. Se para um jogar tênis é um motivo existencial e para outro é ir ao prostíbulo, sustenta-se que em tudo podemos encontrar motivos para seguirmos lutando. E vencermos nossas limitações.

15 de janeiro de 2010

Outra ótica sobre Avatar

Eis o texto, publicado na Revista Bula.


Por que Avatar é idiota


Quase apanhei de minha esposa e filhas, quando souberam que eu chamei as pessoas que gostaram de "Avatar" de submentais. O que não me deixou surpreso, já que são mulheres, portanto cabeças de vento por excelência. Cabeças de vento dão desconto pra tudo em nome do “gracinha” ou “que bonitinho”. O exemplo clássico é um poodle irritantemente latidor, merecedor de uma laringectomia sem anestesia. Se for “bonitinho”, “gracinha”, está perdoado.

Quem melhor expressou em palavras a imbecilidade de "Avatar" foi Luiz Felipe Pondé, o melhor colunista da Folha de São Paulo (alguém que vai além da mera sinceridade, suspeito é que tem prazer em ser desagradável mesmo). Ele o fez em duas colunas, “O romantismo idiota de Avatar” e “Viva o Brasil capitalista!”. Esta segunda não fala do filme, mas serve bem ao propósito.

A ideia central de “O romantismo idiota de Avatar” é a incoerência da natureza selvagem como “bonitinha”. Em “Viva o Brasil capitalista!” Pondé comenta um livro (“Guia politicamente incorreto da história do Brasil”, Leandro Narloch, Ed. Leya) em que confronta a moda intelectual pseudoesquerdista do momento, pela qual os portugueses teriam sido “invasores”, quando na verdade foram “libertadores” de nossa condição primitiva (“nossa” como se fosse possível falar em “brasileiro” desconsiderando a mistura portuguesa). Quando duas culturas trombam de frente, vence a mais avançada. E “mais avançada” é bom, a despeito do que pensem primitivistas teóricos (primitivistas teóricos sabem tudo sobre culturas primitivas, de dentro de suas fartas bibliotecas com ar-condicionado e o Google, que ninguém é de ferro). Se há algo que brasileiros devemos lamentar é que os portugueses, e não os ingleses, nos tenham achado primeiro (e olha que sou descendente direto de portugueses, da cidade de Mira, pra ser específico). Nada, nada, falaríamos uma língua mais inteligente e universal.

Técnica do contraponto

Depois de inúmeras diarreias, febres, dores de cabeça e no corpo, resolvi voltar a escrever alguma coisa. Nada de muito interessante, pois foram dias de alienação total: televisão, programas esportivos, deitado ou no banheiro. Nem as Memórias de minhas putas tristes acabei lendo. Assim, acabei não nutrindo muito minha mente com o que pudesse dissertar.
Na área de Letras, na construção de narrativas ou até no processo argumentativo, existe a tal técnica do contraponto. Nas narrativas, é a observação de um quadro sobre o olhar do outro, daquele que não necessariamente conta o enredo; na argumentação, é aquilo que mostra o outro lado de uma questão ou vai contra a primeira ideia apresentada. Hoje, postarei pra vocês um texto que vai contra um meu já publicado, sobre o filme Avatar. Assino a newsletter da Revista Bula, que trata sobre literatura, lá de Curitiba. Houve uma certa destruição do filme, contudo é algo que pode ser lido.
Caso meus alunos ainda estejam lendo esse blog, peço que leiam o próximo post e os meus nos quais falei sobre o filme. Já vão pensando numa dissertação, pois posso pedir logo no reinício das aulas...

 

10 de janeiro de 2010

Doença

Hoje é dia de fica rem casa, de cama, clamando pra melhorar. Normalmente eu pego as gripes ou viroses de verão. Dor de cabeça, dor no corpo, febre alta. É dia de ficar em casa.
Por isso, o post de hoje não será tão intenso. Comunico apenas que terminei de ler O sorriso da sociedade, que no final das contas achei meio aguado. Comprei mais três para leitura, mas vou começar com um que peguei emprestado da Bibiana: Memórias de minhas putas tristes, do nobel Gabriel Garcia Marquez - ou o Gago, como escutei certa vez um fanático falar. O enredo se baseia num senhor de 90 anos que se dá de aniversário uma noitada no cabaré. Parece que se apaixona por uma das moças. Veremos!
Enquanto isso, vou esperar minha enfermeira chegar. Ainda não fez muito efeito tud que tomei - a não ser ter sono, é claro.

9 de janeiro de 2010

Túnel Literário

O sucesso foi grande. Creio que principalmente entre os educandos. A Festa Junina Literária recebeu elogios aos montes, de cabo à rabo da hierarquia da escola. Muita gente frequentou e gostou do que fora feito. Pena que não fiz um texto para a revista da província vicentina - afinal, todos precisamos de um pouco de visibilidade.
Com isso, permiti à turma um novo trabalho, um pouco mais denso: Túnel Literário. Não haveria separação de grupos - toda a turma seria um só. Faríamos com que o público entrasse na história, participasse, percorresse o cenário e se juntasse a todos no fim. Isso é o que fora feito e a gurizada esteve de parabéns!
O trabalho durou dois meses: definições de enredo, ensaios, ajustes, reajustes. Ensaio final no dia da apresentação. Uma hora antes de se apresentarem, conseguiram concluir a peça. Comemorações. Aí, foi só aguardar a entrada da primeira turma. Sucesso, registrado em vídeo. As turmas subsequentes também participaram ativamente e foram muito boas. Ao que me consta, o pessoal preferiu apresentar para os pequenos - claro, esses interagiam mais, se emocionavam mais. Realmente muito bom.
Trabalho assim, como já comentei anteriormente, devem ser incentivados. Espero que não apenas as disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura, mas todas as demais, se envolvam e realizem participações efetivas dos educandos. O sucesso será consequência.

Fofoquinhas literárias

Que os autores da literatura brasileira eram - ou são - meio problemáticos, todo mundo sabe: bêbados, depressivos, malucos, epiléticos, machistas, traídos etc. Depois de O sorriso da sociedade, até a cogitação de que filho bastardo havia perdido por aí fora levantada.
Nos estudos literários, muitas vezes temos de evitar o biografismo - por mais que a psicolinguística insista que toda a nossa escrita tem um pouco de nós -, mas com a investida de certos eventos históricos fica difícil não levantarmos algumas aproximações. No capítulo Lições de Anatomia, ao explicar a predileção de Machado de Assis por Mário de Alencar, joga-se um fato curioso: este seria filho daquele. Machado teria um caso com a esposa de José de Alencar, o qual registrou o filho para evitar a falação na sociedade. Imagine só: caso isso tenha ocorrido, não teria sido Dom Casmurro uma obra com ingredientes definitivamente particulares? O poema À Carolina não teria sido uma retratação com a esposa, levando em conta que ela poderia saber de tudo ou é a sua mea culpa pelo ocorrido?
Tudo bem que esse blog não é uma coluna do Nelson Rubens, mas é de importante reflexão para o meio literário. Afinal, sabndo disso, quem sabe finalmente saberemos o final da maior obra machadiana? Natural que isso não fará a obra perder em qualidade estética ou representação cotidiana, mas é de se pensar um pouco: aqueles que achavam que Capitu não havia traído Bentinho podem notar o contrário; Escobar poderia ser um alter ego de Machado, tendo em Capitu a esposa de Alencar e o mesmo como Bentinho. Nossa, que caos...
Vale a pena pensar. Já imaginou se isso fosse verdade? A maior obra da literatura do Brasil teria um fundo bem mais íntimo do que se pensa: a traição entre os, talvez, dois maiores representantes de nossa literatura em todos os tempos.

8 de janeiro de 2010

Avatar e a Antropologia

Há uma coisa muito boa que o filme Avatar provoca: o colapso de culturas, um conflito que pode gerar inimizades ou paixões profundas. Que digam os antropólogos, estudiosos que aprofundam conhecimento sobre as diversas manifestações culturais que há no mundo.
Malinowski já dizia que para conhecermos uma cultura, devemos fazer parte dela. A "observação participante" deve ser treinada, para que assim tudo aquilo que pode nos parecer confuso se torne normal. Claro que também é possível fazer da normalidade algo diferente, contudo o mais comum é o inverso. Tal como quando pesquisadores visitam tribos indígenas, quilombos, assentamentos: ficam dias, semanas, meses participando das ações sociais presentes; comem aquilo que lhes é oferecido; vestem-se de tal forma a serem aceitos. Na convivência, aprender as tarefas, as línguas, as comemorações, o misticismo.
Um dos personagens do filme passa três meses num mundo encantado: animais totalmente diferentes, plantas gigantes que encolhem, fluorescência natural à noite, sem contar os na'mi, primitivos azuis que vivem no planeta Pandora. Lá, aprende a montar, caçar, respeitar, amar. Aquilo que os homens não demonstravam, os na'mis faziam constantemente. Nessa relação profunda com cada elemento, ele fora aprovado para viver com a tribo. Completa-se tal ciclo com a paixão por uma nativa, filha do chefe do clã. Os nativos dizem que a natureza se liga por uma relação parecida com as sinapses de nossas mentes, o que se comprova quando eles ligavam seus corpos aos dos animais, através de seus cabelos. Um complementaria o outro e ambos seriam um. Assim, o ex-humano pode voar, conquistar a tribo e vencer os homens.
Tudo isso só ocorreu por um pequeno motivo: compreendeu a cultura do próximo. Aquilo que muitas vezes falta para todos nós, que nem sempre queremos enxergar. Compreender o próximo gera crescimento, primeiramente individual, depois coletivo. Ao se integrar aos na'mis, o homem deixou de ser inimigo, como fora desde o início. Aqueles que não se uniram foram destruídos - pelo próprio homem. 
A antropologia se aproxima de tudo isso, como um estudo que permite essa aproximação entre os seres. Seria muito bom se houvesse uma disciplina exclusiva disso na escola, mostrando a real necessidade de todos estarmos próximos. Sendo isso possível, muitos dos nossos atuais dilemas não mais existiriam e teríamos uma Terra tranquila hoje e sempre.

A ingrata posição de ser humano

Já há alguns posts, falei sobre os problemas do ser humano, seja na questão da fidelidade, no interesse, na ganância. Refiro-me principalmente quando tratei sobre Sempre ao seu lado e sobre o Gênesis. O que me intriga ainda mais é perceber como o homem se desmonta totalmente nessas produções artísticas.
Fui ao cinema ver Avatar. Muito bem feito. É uma produção de sensibilidade muito alta pras questões da natureza, pras relações do homem com a mesma e entre si. Só que os personagens que realmente demonstram esse valor não são humanos. A Terra destruiu sua natureza e uma série de outros planetas são objetos de cobiça, devido aos seus elementos naturais. No caso do enredo, Pandora é um planeta cuja produção de certo material renderia US$ 20 bilhões por quilo. Nada desprezível. O grande problema é que deveriam ser expulsos da região os nativos, para que pudessem se adonar de tudo.
Não vou especificar sobre as personagens e suas relações, pois não vem ao caso agora. Interessante é afirmar que o homem perde a batalha, é preso e expulso à Terra. Previsível o final, mas remonta o que sempre fora a história: o homem vencia, mesmo com grandes dificuldades, mesmo com passos mágicos, como num Independence Day, Tropas Estelares ou Fim dos tempos. Novamente, a cobiça e a ganância humana são altamente questionadas, fazendo-os serem derrotados por nativos de muita inteligência, mas de pouca tecnologia - o que os outros tinham ao extremo. O desconhecimento dos terráqueos sobre a natureza de Pandora - a íntima relação entre os elementos: na'mis e outras tribos, animais, plantas - fez com que perdessem tudo. Houve inclusive o desejo de algumas personagens em se tornarem na'mis, pois perceberam que a vida daquela forma era muito mais humana do que com os próprios homens.
A vontade do homem em ser levado adiante pelo dinheiro é sempre destrutiva. Vide Amazônia, a falta de água potável, o aquecimento global. Talvez esses filmes não consigam realmente afetar as mentes alheias, entretanto nos mostram que a nossa Terra terá problemas realmente sérios adiante. Wall-E também já avisara. O dia em que a Terra parou também. O dia depois de amanhã idem. Podemos crer que é mera ficção científica, ou mexermos nossos corpos em busca de algo melhor.

7 de janeiro de 2010

Faces ocultas da literatura

Após, o Gênesis, minha leitura é O sorriso da sociedade, de Anna Lee. Comecei ontem à noite, mas o sono não permitiu que me delongasse por muito tempo. Pelo Início, percebe-se uma obra que não se aproxima tanto das narrativas ficcionais que tenho lido, mas faz com que pensemos um pouco sobre a face oculta da Literatura.
O enredo se faz sobre o assassinato do poeta Annibal Teophilo, executado pelo crítica literário Gilberto Braga. A princípio, se faz uma longa análise sobre a vida de Braga, o qual, com muitas dificuldades, deixou uma família de ideias políticas para seguir o que realmente gostaria. Apesar disso, seus impulsos foram sempre dotados de muito interesse: a conquista de pessoas para entrar no Diário de Pernambuco; as visitas frequentes a Pinheiro Machado que o levaram à política. Não cheguei aos esclarecimentos da morte do poeta, mas a narrativa firma diversos pensamentos sobre a política que envolvia os escritos nas primeiras duas décadas do século passado.
Um caso interessante de vermos é sobre a escolha dos escritores para a Academia Brasileira de Letras. Num dos casos, Domingos Olímpio, escritor em ascensão, é preterido por Mário de Alencar, filho do famoso José. Explica-se que o escolhido era apadrinhado por Machado de Assis e pelo Barão de Rio Branco. Mesmo tendo pífia produção, adentrou a ABL. Naturalmente que isso nos remete a alguns frequentadores contemporâneos, como José Sarney e Paulo Coelho. Sarney mal tinha obras lidas pelo público quando fora escolhido; pela ascensão da Academia, elegeram Coelho também. Sarney sempre teve muita influência no nordeste, ovacionado no Maranhão, eleito pelo Amapá, mas sempre muito criticado no centro-sul do país. Esse elemento fazer parte da ABL evidencia o nome da instituição, pois, por menos elogios que o político receba, ergue o nome da instituição quando o aproxima a ideia de escritor. Paulo Coelho tem inúmeras obras vendidas, lido pela ala popular, diversas traduções: seria um ser perfeito para levantar a ABL. Apesar de seu texto simples e de estrutura não muito complexa, faz parte dos grandes artistas brasileiros. Vai se saber, né.
O que interessa é que a instituição é voltada para fins políticos praticamente desde o dia de sua fundação. A história comprova isso. Cabe lembrar que O sorriso da sociedade é um romance-reportagem, não uma mera narrativa de ficção. Enquanto refletimos, a politicagem domina pontos que deveriam ser restritos à arte, mas, que por essa ser desvalorizada no contexto atual, acaba se rendendo ao poder.

6 de janeiro de 2010

Experimentando Literatura - VII

Hoje, com o calor escaldante, fiquei pensando nas pessoas que migraram para o litoral. Bem aventurados sois, meus caros! Aqui, fico no mormaço e agora acompanhado da chuva. Tudo bem: comecei minhas aulas de violão e tenho várias leituras para me entreter - além do PS2, claro. Isso enquanto a Bibiana trabalha. De qualquer forma, deixarei um textinho de 2002 para leitura alheia.

Jogo de Cartas (2002)


O verão sempre foi rotulado como a estação do ano que traz grandes viradas para as pessoas. É a estação do amor, estação do sol, das ondas, dos protetores solares, cachorros na rua, frutas, etc. Quem diria, também é a estação das cartas. As cartas de jogo mesmo.
Em Atlântida Sul, Júlio tinha sua casa. Não muito grande, mas suficientemente confortável. Alguns cômodos, banheiros, cozinha, área de serviço. Mas ele tinha algo especial: a garagem. Pois é, a garagem. É que lá sempre rolavam os jogos da família. Várias madrugadas em claro, apenas jogando. Sejam cartas, seja tabuleiro, seja videogame. Sempre havia alguma disputa por lá.
Logo após o Ano Novo, Júlio, de Porto Alegre, partiu para o litoral. Lá, já estavam sua mãe e seu irmão mais velho. Levou com ele sua namorada, Ana Clara, e seu amigo do 
peito, Fabrício. Chegando a casa, foram se ajeitando em seus cantos.
Os primeiros dias de verão (afinal, só agora eles estavam de férias, podendo-se dizer isso) foram daqueles bem comuns: caminhada na praia de tardinha, saídas à noite, dormir tarde, acordar tarde. O Fabrício já estava começando a se sentir um tanto deslocado, pois, como a Ana estava sempre com Júlio, mal podia trocar algumas idéias com o amigo. Apenas enquanto ela tomava banho. Isso quando Júlio não levava a toalha para ela.
- Meu, na boa, to começando a me achar meio desentrosado... - desabafa o amigo.
- Ah, guri, não te sinta assim! Quando começarmos nossas disputas à noite, não irá mais querer sair! Hehehe
- E isso vai demorar, por acaso? - questiona, ironizando.
- Ah, é só o tempo dos guris chegarem aí...
Alguns dias se passaram e os tais guris chegaram. Os famosos “amigos da praia”. Todos eram vizinhos, criados juntos desde pequenos. Eram três: o Zeca, o Kiko e o Joca. E eram muito parecidos. Baixos, medianos, morenos, olhos escuros. O que diferenciava eram apenas os traços. Nada mais.
Chega a primeira noite de jogatina. “Finalmente”, pensava Fabrício. Começara a se entediar na casa do amigo. Mas isso logo mudaria.
- E aí, qual a pedida de hoje? - pergunta Zeca.
- Bah, eu tava pensando num fliperama. Não são parceiros de ir até o centrão? - responde Kiko.
- Não sei... Não to muito a fim de pegar o carro agora... - replica Júlio.
- Mas se for por isso, eu dirijo! - treplica Joca.
- Que tu achas, Fabrício? - lança Júlio.
- O que vocês quiserem fica bom pra mim...
- Ah, deixa disso... És nosso convidado, mas não precisa ser submisso...
- Então, sugiro que façamos algo em que nós cinco sejamos colocados na mesma situação.
- Beleza. O quê?
- Conhecem Dorminhoco?
- Evidente... Vamos jogar?
Todos concordaram e sentaram-se à mesa. Pegaram a tampa de uma garrafa de vinho para fazer de “paga-prenda”. Começaram a jogar. Joca movimentava a carta, que chega às mãos de Zeca. Observa as suas e repassa outra para Júlio. O menino pega a carta, faz uma cara de desconfiança e relança para Kiko. Este a pega, troca com outra carta, troca com outra e manda para Fabrício. O convidado relança a carta, que não lhe interessava. Assim se sucedeu por alguns minutos, até que Joca deixa com que suas cartas caiam. Os outros vêem, menos Júlio, que esperava por nova rodada. A rolha foi queimada na ponta. Levou tinta no rosto. Nas rodadas que se sucederam, risadas, técnicas, olhares desfilavam sobre aquelas folhas plásticas. Isso até a Ana Clara chegar na garagem e perguntar se poderia entrar também. Porém, após ver o rosto manchado de todos os garotos e a tampa de vinho em cima da mesa, fala:
- Acho que tua mãe tá me chamando, Julinho...
Os dias que vieram foram de plena diversão. As noites eram repletas de risadas, gargalhadas monumentais. Até que Fabrício diz:
- Pior... Até deu pra esquecer a Amanda...
- Que é isso, guri! Vai ficar lembrando dessa aí agora?
- Justamente... Esqueci!
- Assim que se fala! Voltemos ao jogo!
Fabrício namorara durante quatro longos anos com ela. Porém, ao final do segundo ano, explodindo de amor pela menina, ela o trai com Gil, amigo deles. Agora, não mais. Desde aquela data. Continuaram namorando, pois ele ainda não sabia do acontecido. Apenas Júlio. Relutou em contar, não queria ver a cara de arraso do amigo. Mas não resistiu por muito tempo. Já tinham três anos de namoro, quando contou. Fabrício não creu. Apenas um ano depois se convenceu de tamanha farsa da amada.
Na manhã da quinta-feira posterior, Júlio levantou cedo da cama. A mãe noticiara que seus primos de Tapejara, Augusto e Scheila, estariam na praia dentro de dois dias. O garoto alto, de olhos azuis, não demonstrou muita felicidade ao receber a notícia, mas Ana Clara abriu um enorme sorriso ao saber que sua amiga do interior estava por vir.
Na noite da sexta, os seis resolveram ir para uma festa em Capão da Canoa. Muito movimento, muitas pessoas estavam por lá. A Praça Central do município lotara para ver as apresentações que se dariam. Divertiram-se muito. Joca, inclusive, acabou por conhecer uma menina, Lia, que foi convidada a comparecer no balneário onde veraneavam.
Chega, então, o sábado. Dia quente, cerca de 35°C. Abafado. Propício a um banho de mar. E é o que o pessoal da casa faz.
Enquanto Júlio mergulhava na verde água, Ana Clara conversava com Fabrício, demonstrando toda sua gratidão por ter vindo junto deles ao litoral:
- Nossa relação anda meio desgastada... Entendes, né? Começam aquelas brigas bobas, tudo mais... Achei que seria ótimo ter tua presença aqui... E realmente está sendo!
- Deixa disso, Aninha... O Júlio te ama...
- Eu sei que ama... Mas era melhor para nós darmos um tempinho, mesmo juntos... Eu sei o que ele faz, ele sabe o que faço, mesmo que não estejamos grudados, como antes... Está melhorando a coisa...
- Se você diz... Que ótimo!
- Bah, cara, tu sabe quanto eu te admiro... E te admiro ainda mais por seres o melhor amigo do Julinho... Mas há algo nos teus olhos que traz uma certa tristeza...
As lembranças de Amanda voltaram à tona. Fabrício desvia a atenção e vai ao mar. Mergulha bastante. Vai ao fundo. Ana olha para os dois juntos. Ambos com o mesmo calção preto. Júlio, branco como requer a ascendência de um alemão. Fabrício, moreno claro, alto, físico malhado. Logo regressam, pingando como se trouxessem o mar com eles.
- Olá!! - alguém diz.
- Scheilinha!! - grita Ana Clara.
Os parentes haviam chegado. Fabrício parece ter um lapso. Apenas observa. Júlio cumprimenta os primos. Em seguida, os apresentam ao amigo:
- Cara, esse é meu primo Augusto, baita figura! Beberrão até não poder mais! Hahahaha!
- Prazer, cara! - educadamente, diz Augusto.
- Prazer... - responde Fabrício.
- Bem, e esta é minha prima querida... Scheila!
- Oi... Muito prazer! - timidamente indaga ela.
- O prazer é meu... - mais timidamente ele responde.
- Bah, to louco pra tomar um banho! Vamos nessa, primo? - questiona Augusto.
- Ah, vou dar um tempo aqui, recém saí d’água...
- Ah, tão tá... Vamos, Scheila?
- Vamos sim... Nos acompanha, Aninha?
- Claro!
E partiram os três para dentro do mar. Júlio, sentado ao lado de Fabrício, comenta:
- Bah, meu... Fazia tempo que eu não reparava como a Aninha é linda... Estamos juntos há quase três anos e fui capaz de deixar isso passar... Sempre gostei de menina loira... Ela tem isso... Tem um corpo lindo... Parece feito sob medida... Adoro o caminhar dela, como ela fala, a delicadeza dos braços, a ternura do beijo...
- Oh... Já podes virar poeta! Hehehe
- Pior... hehehe... Mas é sério... Amo-a de verdade...
- Tenho certeza que ela também...
Mas Fabrício não se concentrava na conversa. Apenas em Scheila. Observava cada detalhe. Desde o biquíni listrado em amarelo e azul claro; o tom avermelhado do cabelo; a pele clara, mas já bronzeada pela força dos raios solares; a tez nua, com o sorriso que destacava as belas maçãs da face. Encorpada, mas sem nenhum destaque. Perfeita. Seu sonho. Sua vista.
- Ela tem 23 anos...
- Como?
- A Scheila tem 23 anos, cara... Ela é mais nova que você, mais chances... hehehehe
- Eu falei que queria algo com ela?
- Teus olhos já disseram tudo, parceiro...
E tinham dito mesmo. Estava encantado pela beleza da interiorana. Eles regressam do mar e logo foram para casa.
Fabrício passou o dia todo cuidando a menina. Como ela se movimentava, o que conversava, o que fazia. Pode ouvir que era acadêmica de Geografia da UPF, de Passo Fundo. Estava no penúltimo semestre, formar-se-ia ao final do ano. Professora. Era seu grande sonho profissional. Morava apenas com o irmão, em sua cidade, pois os pais haviam se separado há anos. Com isso, o pai se mudou para Santa Catarina e a mãe, após os filhos terem começado a trabalhar, resolveu começar a vida novamente com outro homem, para os lados da fronteira com a Argentina. Falava muito de novelas, filmes, livros. Lia muito Machado de Assis. Era fã de The Clash, Heart e Boston. Estava sabendo bastante.
Após tomar seu banho, o convidado percebeu que não havia ninguém dentro de casa, mas que movimentações aconteciam nos fundos. A mãe e o irmão de Júlio haviam saído, rumo a Porto Alegre, para ver se descobririam o porquê de o irmão mais novo ainda não ter rumado para a praia. Fabrício sai de casa e vê o portão da garagem aberto. Lá estavam eles.
Zeca e Kiko animavam-se no videogame. Joca, ao lado de Lia, que fora visitá-lo, conversava com Júlio e Ana, que logo diz:
- Aí está o menino do banho demorado!
Ele fica meio sem jeito, mas se aproxima do pessoal. Cumprimenta os guris e lança um olhar para Scheila. Esta não percebe o ocorrido e permanece sentada na mesa, falando ao celular. Pergunta a Júlio:
- E o Augusto?
- Foi com a mãe e o mano pra Porto. É muito estranho não ver o Heitor aqui ainda... Acabou preocupando-se e se ofereceu para dirigir, já que o Jacques tá com o pé torcido...
Desse jeito, era como se o caminho estivesse totalmente livre para que ele tivesse uma conversa mais íntima com a prima do amigo. Lança mais um olhar para ela, que já havia desligado o telefone. Ela percebe, mas sente-se encabulada. Um leve sorriso.
Já era 1h, quando Júlio resolve gritar:
- Hora do jogoooo!!
E assim foi. Sentaram-se todos a mesa. Ana, Júlio, Zeca, Scheila, Joca, Lia, Kiko e Fabrício. Propuseram uma partida de Mau Mau. Na concordância de todos, resolveram começar. As cartas eram postas à mesa. O jogo rolava. Quem ficasse com a maior pontuação nas cartas deveria pagar uma prenda.
- Mau mau! - diz Ana.
- Não, meu bem, pega uma mais. - fala Júlio, após colocar um nove na mesa.
- Mau mau! - também diz Zeca.
- Ih, meu Deus... Preciso de mais uma carta... - diz Scheila, rabiscando um olhar para Fabrício.
- Certo... Vamos dar mais emoção a isso... - Propõe Joca, ao lançar um sete sobre as cartas.
- Mais sete, então! - diz Lia.
- Putz... Pobre Fabrício! - ironiza Kiko, colocando outro sete sobre a mesa.
- Bah... Que droga! - esbraveja Fabrício, em meio às gargalhadas dos amigos e o olhar tímido de Scheila, pegando suas nove cartas do baralho.
- Mau mau de novo! - diz Ana.
- Mau mau! Só mais uma carta! - coloca Júlio.
- Vai essa... Mau mau! Venci! - vibra Zeca.
- É, vamos contar os pontos... Mas acho que ficará a decisão entre o Fabrício e a Scheila, sobre quem tem mais pontos! - ironiza Júlio, olhando Fabrício com um curto sorriso.
Contaram e recontaram os pontos, um a um. No fim, empataram. Fabrício e Scheila teriam que pagar um vale. Ou uma prenda.
- Vão lá fora e decidam o que fazer! - dispara Ana.
Fabrício fica extasiado. A menina vai até ele, pega-o pela mão e o leva para fora. Quando saíam da garagem, Scheila rouba-lhe um beijo. Fabrício achou estranha a atitude da moça, que permanecera tímida até então.
- Bah, cara, desculpa... Não consegui mais controlar... - fala ela.
- Não te preocupas... Eu já estava querendo isso mesmo...
E beijam-se novamente. Dessa vez, um caloroso e longo beijo. Mal haviam trocado palavras, durante o tempo em que estavam juntos. Um “com licença para cá”, “por favor” para lá, olhares profundos, tímidos, mas com um único ideal: a conquista do próximo. Adoraram-se desde o primeiro momento em que se viram. E, pelo jeito, continuariam se adorando.
De repente, Ana Clara sai da garagem para saber por que demoravam tanto para voltar. Logo, vê a bela cena. Pensa consigo:
- É, Fabrício... Estamos em pleno veraneio... Deixa a Amanda congelar num inverno distante... Mantenha-se nesse novo fogo, pois o verão ainda te trará tudo que mereces.
E assim foi. Dias e dias passaram e a conquista tornou-se realidade. Ambos juntos, aproveitando o tempo que tinham. Pouco tempo. Fabrício deveria voltar para a capital, enquanto Scheila teria de retomar estudos e contato com os pais em Tapejara. Quando da despedida, tristeza. Mas uma tristeza feliz: Fabrício pôde livrar-se do fantasma de Amanda e descobrir que uma nova conquista é dada quando fazemos algo por tê-la e, assim, poder se aproximar do próprio ideal de felicidade.

Festa Junina Literária

Hoje é meu último dia de trabalho na escola, considerando ainda a temporada 2009. Estou entrando de férias hoje, não sem antes corrigir alguns textos, como de praxe. Assim, aproveito o momento para relembrar de um dos trabalhos que fizeram bastante sucesso esse ano.
Festa Junina Literária. Ideia meio maluca, a princípio. Só de pensar em pegar uma turma, fazê-la organizar um evento que necessita de espaço, caracterizações, jogos bolados por eles e, ainda por cima, tendo de relacionar tudo com a Literatura, já era difícil. No fim das contas, não foi.
As minhas vítimas do ano passado foram da turma 201. Por que eles? Bom, talvez a relação bastante harmoniosa que mantive com a maioria desde o primeiro ano facilitou a escolha. Os da 301 já estavam de saída; dos educandos dos primeiros anos, ainda não sabia de suas produções. Deveria ser com eles.
Mais do que organizar esse evento, a aproximação entre as criaturas foi bastante grande. Um deles, ao final de tudo, revelou: "o que mais contou pra que tudo desse certo foi termos nos unido". É bem provável. Eles foram divididos em grupos para organização dos jogos, mas todos colaboraram com a montagem da localidade. Imaginem uma grande sala, espaçosa pra uma aula comum. Nela, quase trinta pessoas pra montar o trabalho. Depois, receber outras 30, 40, 50 que fossem jogar com eles. Cerca de 80 a 90 pessoas dentro de uma sala. Jogos? Confusão? Não, não: muita organização e empenho!
Caracterizaram-se de acordo com personagens literários, fossem infantis ou adultos. Apareceram Chapeuzinho Vermelho, Emília, Vampira, bem como o delegado de Canibais, do David Coimbra, ou Mayer Guinzburg, de Exército de um homem só, do Moacyr Scliar. Dividiram a sala em cinco pontos, nos quais havia os jogos: bingo literário, Show do Livrão, entre outros. Para que as outras turmas pudessem participar, não fora cobrada a entrada, mas se pediu a colaboração de um livro, o qual doaríamos a alguma biblioteca. Recebemos cerca de cem livros. Cerca de dez turmas frequentaram o ambiente, em horários distintos. A gurizada cansou, mas souberam realizar todo o trabalho com bastante afinco.
Não precisamos ficar presos apenas à sala de aula. É importante também vermos bons conteúdos, boas reflexões e bons exercícios. Ainda assim, é fundamental que saibamos encontrar momentos em que possamos proporcionar não apenas o aprendizado individual, mas o coletivo e suas sociabilidades. O que era uma turma resultada de um primeiro ano bastante difícil tornou-se expectativa de um grande terceiro ano. Agora, é esperar pra ver.

5 de janeiro de 2010

O que é Ser Humano?

Gosto de leituras que me deixem com a cuca fundida, como diria aquele velho título do Woody Allen. Minhocas na cabeça, pulga atrás da orelha, uma investação animal em meu cérebro. Foi o que acabou por provocar o Gênesis.
Vocês lembram que falei sobre essa obra há pouco tempo. Minha visão não parecia tão absurda mesmo: o texto, além de contagiante, traz uma experiência que não me era comum. No decorrer da narrativa, a personagem principal, Anaximandra, está sendo avaliada para entrar na Academia. O tempo inteiro é assim. E nesse espaço de tempo, ela conta a história de Adam, que revolucionou a República de Platão: através de sua morte, as máquinas perceberam que, mesmo comandadas a não ferir seres humanos, poderiam fazê-lo. Art estrangulou Adam, a pedido do mesmo, mas gerou um grande problema. A criatura destituiu o criador, como já ficara evidenciado em Frankstein ou em O médico e o monstro. Só que ainda não tinha presenciado uma narrativa que fosse desituída de seres humanos, apenas máquinas, que revisitassem a história dos homens para eliminar qualquer máquina que fosse contra o que havia sido padronizado. "Revolucionar seria a decadência", como explica Anax, segundo Platão.
Por mais que a obra trate de assuntos relativos à Biologia, à História, à Sociologia, à Filosofia, uma das questões que mais me chamou a atenção foi sobre o poder. A ética, valor negligenciado atualmente, principalmente no meio político, é vista como prova para entrar na Academia e nada mais. Afinal, não é útil para o governo ter uma cabeça que pense nos demais, modificando todo um panorama pré-estabelecido, quando é mais simples, mais comum simplesmente eliminar esse ser. É o que acontece com Anax: ao perceber que tudo fora obra de Adam para que as máquinas se "sentissem" inferiores aos homens - mas ao mesmo tempo tão poderosas -, teve de ser eliminada, pois poderia contaminar uma sociedade com ideias que levantassem suspeitas sobre a Academia, o Congresso e todo o governo instituído. Calou-se uma voz de razão, que teria capacidade de modificar o que havia. Fez-se o mais tranquilo: manteve-se tudo como sempre fora.
Transpondo para nossa realidade, é o que se demonstra em diversos movimentos. No caso, por exemplo, do que é dito sobre a governadora Yeda: mataram um antigo assessor, que morava em Brasília, para que esse não testemunhasse contra a própria regente do Estado. Se isso realmente ocorreu, temos um caso de queima de arquivo, tal como Anax era - uma máquina receptora de informações, as quais aniquilariam um contexto. Se o ex-assessor ainda fosse vivo, o quanto poderíamos saber sobre as peripécias de Yeda? Se Anax sobrevivesse, como seria a sociedade da República ao descobrirem que a máquina matou o homem e a fez como era?
Não é possível abstrairmos respostas. O que se julga, como realmente útil para nossa reflexão, é a forma como isso se dá em nossas mentes: buscar mudanças ou manter o que há? Esperar reformas oriundas das classes populares ou da elite ou, quem sabe, fazer algo para mudar a sociedade? A história de Anax pode ser mera ficção para quem a lê distante da realidade, mas quem se aproxima dela descobre uma gama de possibilidades muito grandes para lutar pelo que pensa como correto.

Call Center

Um dos piores segmentos que as empresas poderiam ter criado para atender os clientes é o call center. Que grande porcaria! Enquanto escrevo esse post, estou aguardando atendimento online. Isso porque por e-mail e por telefone já não consegui.
Foi criada uma lei, se não me engano, instituída no ano passado, que regula limites de tempo para atendimento. Teoricamente, mais emprego, melhor atendimento - ou ao menos mais rápido. O que se nota é uma mudança pouco profunda: creio que falte qualificação pra muitos profissionais, sem contar que muitos desses devem se indignar com as atrocidades que, não raras vezes, os consumidores entopem os ouvidos alheios. Enfim, não é um exercício muito recomendável aos que não gostam de aguardar...
Mais além falarei um pouco mais sobre o Gênesis, que terminei hoje.

4 de janeiro de 2010

Dia de quitação

Hoje é dia de quitação. Começar o ano queimando contas não poderia ser melhor. Está certo que terminei o ano sendo obrigado a sair de um de meus empregos, mas a grande vantagem disso tem nome: FGTS. Sigla, na verdade. Esse fundo de garantia me fará, hoje, quitar o carro.
Um Peugeot 106, simples, mas de litoral. Volta e meia é necessário levá-lo ao mecânico. Esse mês, terei alguns gastos com ele: buzina, retrovisor, suspensão. É o preço que se paga por comprar um carro de, agora, 12 anos! Tudo bem: leva-me para todos os lados, não me dá dor de cabeça em horários corridos. Há ainda um saldo positivo.
Preciso reajustar algumas coisas ainda: livrar-me-ei de uma conta altíssima para os meus padrões, mas devo me cuidar em outros aspectos. Há o dinheiro agora, mas não há garantia de maiores recebimentos posteriormente. Sonho que uma certa faculdade ainda me chame, na qual sou reserva - segundo eles - e a expectativa de muito trabalho esse ano aumenta. Tomara que tudo se confirme.
Mudando um pouco de assunto, comecei a ler o Gênesis. Estou gostando bastante! É de uma estrutura muito curiosa, em que a personagem Anax faz um relato sobre a vida de Adam, para ser aprovada na Academia, a maior instituição de ensino da República de Platão. Há diversas referências à filosofia clássica, personagens que tomam nomes de filósofos, e tudo se explica no decorrer do texto. É atraente e sem muitas delongas.
Já tenho o próximo para ler: Sorriso da sociedade, de Anna Lee. É uma parceira do Carlos Heitor Cony, renomado autor, que partiu pra carreira solo, digamos assim. Trata sobre o assassinato de um poeta por um crítico literário, no Rio de Janeiro da década de 20. Deve ser outro bem curioso de ler.
Então, hoje é dia de quitação: espero que não apenas do carro, mas do livro que estou lendo. Assim, poderei começar o dia 5 com um livro novo - e com a conta bancária nova também.

3 de janeiro de 2010

Experimentando Literatura - VI

Esse é um dos textos que meus amigos mais gostaram de ler à época. Por que será?


Noite no Terraço (2001)

            Certa noite, quatro amigos resolveram se reunir na casa de um deles. Levaram violão, guitarra e um pandeiro. O pandeiro era do Toledo, o único que não tocava nada. Buscou nesse pequeno instrumento aliviar seu ego que o fazia menosprezar frente aos próprios amigos. Bobagem, mas não se sentia bem. O violão era do Bola, famoso por suas milongas fronteiriças, mas que há um tempo não as ensaiava mais. Por fim, a guitarra era do Jorginho, cara meio metido, achava que tudo que fazia dava certo. Coitado.

            A casa do Dina era na Cidade Baixa. Dina, pois seu nome é Jesper Scholasen, dinamarquês por natureza, vindo de lá quando tinha seus seis anos de idade. A mãe fora tentar a vida na Europa, depois de fracassar no primeiro casamento, também com um estrangeiro. Acabou como empregada doméstica da casa do pai do garoto. Depois de tudo que se pode imaginar, vieram para o Brasil em busca de adaptar o filho a uma vida menos fria, menos restrita.

            Chegaram os três na casa do amigo, sendo recepcionados depois de longos dez minutos tocando no interfone. Estava sozinho em casa, com os pais tendo ido para o litoral. Logo, subiram todos para o apartamento.

- Bah, meu, beleza... Vamos chamar umas minas!

- Nem pensar... Já pensou no que os vizinhos vão dizer, Bola? - retrucou Dina.

- Ah, mas não ia ser uma má idéia, né? - replica o menino.

- Por enquanto, não creio que será algo agradável. Pensemos nisso outra hora.

            O Dina era gozado pelos outros guris porque aprendeu o português gramatical, usando-o para a fala. Toledo tentou fazer com que ele aprendesse as gírias mais usadas, mas não surtiu efeito.

- Mas então, o que tocaremos hoje, pessoas? - questiona Jorginho.

- Cara, eu tava pensando em tocar um pouquinho de Rush! O show foi tão bom, quase não agüentei em pé... Uma hora deu um empurra-empurra, ninguém quase se segurava... Bah, muito show... - responde o Bola.

- Qual do Rush tu nos propõe?

- Hmmm... Que tal Time Stand Still?

- Putz... Não sei tocar essa. - retruca Toledo.

- Que tal tocarmos alguma música nacional? - fala Dina.

- Boa idéia. Qual?

- Boemia... A que me tem de regresso...
- Bah, que é isso! Música de velho! - ataca Jorginho.
- Ah, isso não era - fala Toledo - mas que tal tocarmos uma música que todos saibamos?
- Hehehe... Se isso for possível! - ironiza Dina.
- Tá, espera aí... Vocês conhecem aquela música do Angra, Reaching Horizons? É super bonita...
- Conheço sim. - responde Jorginho, meio enojado.
- Eu também! - fala Bola.
- Ótimo, todos conhecemos! - diz Dina.
- Certo, vamos todos juntos então! Um, dois, três...
            E começam. Tocam os primeiros acordes, até que as primeiras palavras saem:


Rainy cloudes covered up the sunny sky

            Now I know I’ll sleep alone tonight

            Tears and preyers will be taken by the rain

            Fear and loneliness in my dreams

            (...)

Fly high reaching skies

Two eagles flying to be free

Moments of madness will be left behind

The same horizon but in different lands


- Ah, que bala, meu... Essa ficou muito show! - alegra-se Bola.
- Demais. - pondera Jorginho.
- Vocês já pensaram na possibilidade de termos uma banda? Imagina que legal! Eu na vocal, o Bola no baixo, o Jorge na guitarra...
- E a bateria? - questiona Bola, ao Dina.
- Se o Toledo se puxasse um pouco...
- Ih, então tamo mal!
- Hahahah... Pobre Toledo! - agride Jorginho.
- Bah, Jorginho, na boa, essas tuas palavras soaram piores que as do Bola!
- Sentiu a facada, parceiro?
            Começam a se desentender. Um festival de palavreados desfere-se dos lábios de ambos meninos. Dina tenta apartar a discussão. Bola apenas ri. Mas logo termina a malcriação dos garotos. Tentam tocar algo novamente.
- Vocês já viram algum show do Satriani? Que homem que sabe tocar! - elogia Bola.
- Bah, um amigo meu, uma vez, alugou um DVD do cara... Achei fantástico! Aliás, o baixista da banda parecia muito com o Bola! Alemãozão assim, bem fofo... hehehe
- Sem graça, Toledo, sem graça... - novamente fala Bola.
- Ah, mas vamos tocar algo que possamos cantar! - implora Dina.
- Bem, vejamos... Que tal Alan Parsons?
- Ótimo, Toledo... Fall Free?
- Excelente!
            Todos concordam e começam a tocar e cantarolar:
       

What’s the use of worrying

            If we’ll be here tomorrow
            All we need to be is here today
            Don’t care if you’re rich
            Or if you have to bag and borrow
           You can always find a way
            Dive and breakaway
            (...)
           Fall free
            Freedom’s in the air
            It’s calling you
            Your heart is there
            Fall free
            Blaze across the sky
            The perfect fall
            The perfect high

- Eu falo, caras, deveríamos ter uma banda!
- Agora podemos ter... Até tá falando “caras”! hehehe - responde Jorginho.
- Ah, mas se eu tivesse a voz daquele vocalista do Queen...
- Quem? O Freddy Mercury? Tu sabe de quê ele morreu?
- Não... Como?
- Dizem que foi por causa da AIDS, tudo mais... Não sei bem qual a causa, mas acharam espermatozóides no estômago do cara...
- Que nojo...
- Blergh! Porra, Jorginho, eu recém jantei, mala! - explode Bola.
- Tá, vamo pará com isso! Quem sugere outra música? Essa não ficou tão boa...
- Bah, deixa eu ver... Calling Dr. Love, do Kiss?
- Seria uma bela pedida! - responde o Dina ao Bola.
- Ah, mas essa eu não sei tocar... - fala Jorginho.
- Na real, nem gosto de Kiss. - desabafa Toledo.
- Bom, vamos tomar alguma coisa. Vocês querem cerveja?
- Ceva! Beleza! - responde Bola ao Dina.
            Foram os quatro meninos para a cozinha. Abriram suas latinhas e tomaram. Abriram outras. E cada um tomou ainda mais uma.
            Jorginho, que era meio fraco para bebida, começou novamente com aquele velha idéia:
- O meu, vamos chamar umas putas!
- Cara, não começa... - fala Toledo.
- Pior que já estou achando uma ótima idéia... - dispara Dina.
- Tão vendo? Tão vendo? Eu sei o número de uma mina lá...
- Ih... Lá vem o golpe! Hehehe - preocupa-se Bola.
- Peraí... Acho que é 9045-7767.
- Não tens aí no celular?
- Calma aí...
           Procurou no seu Startac e encontrou o nome da prostituta. Márcia. Ligou:
- Ah, por favor, é Márcia? Oi, meu bem... Eu queria saber se tu tá livre agora? Que bom... E tem mais algumas amigas? É que estamos em quatro aqui... Certo... Sim... Show de bola... Aham... Tá, é aqui na Lima e Silva, perto da escola... Essa mesma... Ok... Certo, em meia hora te espero... Um beijão, gata...
- Pô, tá íntimo da mina, hein, tarado? - fala Toledo.
- Ah... Algumas vezes, sabe...
- Aham, to sabendo... Tu nem discou o número no telefone, cara!
- Que o quê! Espera meia hora pra tu vê, otário...
- Hahaha... Quero vê!
- Cara, já são 2h da matina. Vamos nos organizar.
- Peraí... Deixa eu pegar outra ceva... - diz Bola.
- Não te embebeda, meu...
- Vou tentar! Hehehe
- Ok, acalmemos... - começa Dina - Aqui no terraço tem dois lugares que poderemos ficar. Lá embaixo, tem meu quarto, que eu vou ficar. Eu não queria que o quarto de meus pais fosse ocupado. Sobra o banheiro, a cozinha, a sala... Ou se alguém quiser ficar ao ar livre, tem o patiozinho... O que vocês querem?
- Posso ficar com a salinha da esquerda? - pergunta Toledo.
- Claro.
- Eu quero ficar aqui mesmo. - propõe Jorginho.
- Ok, você quem sabe...
- E eu? - questiona Bola, chegando da cozinha.
- Terás que ficar na sala, ali embaixo, ou ao ar livre...
- Deve ser bala comer uma mina ao ar livre!
- Então fica aqui em cima, do lado de fora...
- Beleza!
            Então, resolvem esperar pelas meninas. Não demorou vinte minutos após a ligação e elas chegam, ofegantes. Tocam o interfone:
- Oi! Aqui é a casa do Jorginho?
- Na verdade, é do Jesper, mas ele quem te ligou...
- Ai, que ótimo! Podemos subir?
- Evidente...
            E as quatro moças sobem. Ouve-se um barulho infernal de tamancos batendo no chão, no hall de entrada. Pegam o elevador, marcam o sexto andar. Logo, chegam no apartamento do dinamarquês.

- E aí, gatinho? - dispara uma das meninas ao Dina.
- Oi... Entrem... - responde docemente o menino.
            A tal Márcia era uma loira alta, com 19 anos, cerca de 1,75m, com coxas roliças e glúteos empinados. As outras trabalhadoras eram esplendidamente bonitas. Marcela, com seios estupidamente grandes, mas proporcionais, tinha estatura mediana, com pele morena-índia, devendo ter uns 20 anos. Outra moça, a Babi, tinha a mesma altura da Marcela, mas sua beleza prendia-se a sua tez, destacada pelos olhos azuis claros, sorriso de menininha, nariz pontiagudo. Já a mais nova, com 17 anos, Heleninha era uma mulher feita. Cabelos castanho-claros, olhos cor de mel, barriguinha lisa, malhada, pernas fortes, bumbum cheio e seios estonteantes. Elas estavam prontas para iniciar seu árduo trabalho.
            Jorginho logo chama Márcia, penetrando a língua pelos lábios da mulher. Leva-a para o andar de cima. Já Dina, mais comedido, fica com a Babi. Primeiramente, uma pequena conversa, logo beijando-a. A belíssima Marcela foi a tentação de Toledo, que também subiu com ela. Então, sobraram Bola e Heleninha. O garoto ficou tão pasmo com a beleza da guria que ele mal se movimentava.
- Oi, oi, oi... - fala suavemente Helena.

- Ahn... Oi...
- Hmmm... Estás me parecendo tímido...
- Eu acho que bebi demais...
- Hmmm... Que nada, não tens odor algum... Deixe-me ver na sua boca...
            E disfere-lhe um beijo que, ao invés de fazê-lo fechar os olhos, os arregala ainda mais.
- Nossa... Fazia tempo que não me beijavam assim! - relata ele.
- Hehehe... Isso porque tu não tocaste um dos meus pontos de prazer...
            E ela pega a mão do gordinho e leva até seu seio. Pressiona-o contra. Faz cara de prazer. Muito prazer. O cara geme. Ela também. E ambos correm para o terraço.
            Chegando lá, os dois casais já chegaram aos finalmentes. Jorginho e Márcia já estavam nus, trepando lenta e carinhosamente. O Toledo ainda estava de calça, com a menina fazendo um strip para ele. Bola e Heleninha correm para o terraço.
- Cara, sempre sonhei com sexo ao ar livre! - berra ele.
- Nunca fiz isso... Deve ser o máximo, ainda mais contigo...
- Vamos lá, então, guria... Ora de botar a maquina para aquecer!
            Ela vai abrindo a braguilha da jeans do menino. Abaixa a cueca. Manuseia o órgão. Ele geme como se nunca houvesse mexido. Abre a boca. Ela penetra a língua nele. Despem-se. Transam.
            Nessa altura, o Jorginho já estava em fase final de relação com sua garota. Toledo penetrava com receio em Marcela. Pensava toda hora se ela não estaria com AIDS. E também estava com medo de uma ejaculação precoce. Concentrou-se.
            Já Dina parecia passar as melhores horas de sua vida. Penetrava na menina com gosto, orgulhando-se de quem escolheu. Analisava cada movimento da garota, cada suspiro, cada gemida. Parecia ter se apaixonado. Um bom tempo depois, após sua gostosa transa, Dina pergunta à menina:
- Como pode uma beleza de pessoa como tu estares metida nesse meio?
- É meu único modo de pagar a faculdade... Só assim dá...
- Que tu cursas?
- Fisioterapia.
- Nossa, que legal. Faço Enfermagem na Federal.
- Que ótimo! Poderemos um dia trabalhar juntos!

- Com todo o prazer... Aliás, se quiseres estudar biologia e anatomia comigo, terei prova dentro de duas semanas... Adoraria tua presença...
- Eu também iria adorar, mas esse meu trabalho me impede.
- Não fale assim. Se eu pudesse, te tiraria dessa vida.
- É... Infelizmente não é assim que a coisa acontece...
- Mas por que tu escolheste fisio... Que barulho é esse?
- Parece som de telefone.
- Mais especificamente o interfone! Quem será essa hora?
O dono da casa sai da cama, correndo para atender o aparelho, ainda nu:
- Meu, isso aqui tá muito booooooooom!! - berra Toledo, na extensão.
- Ah, cara, não me atrapalha! - retribui Dina.
            Ele volta para o quarto, não antes de ouvir os gemidos de Bola e Heleninha no terraço. A única coisa que não queria eram problemas.

            No andar de cima, Jorginho estava esgotado, caído por cima de Márcia.
- Hmmm... Adorei, Jorge! Você foi muito bom... Jorge? Jorginho?!
            E o cara estava desmaiado. A bebida consumida em excesso, além do esforço demasiado resultaram no cansaço da figura, que ficou estirada no carpete da pequena sala, enquanto Márcia vestia-se. A garota de programa olha para a salinha ao lado e vê Marcela colocando a cabeça de Toledo entre seus seios. Observa as movimentações do lado de fora e vê Heleninha em posição de cachorrinho, com o Bola por cima. Mas, de súbito, ambos param. Márcia resvala o olhar para outro lado. E o interfone toca novamente. Dina sai correndo do quarto de novo, depois de conversar longamente com Babi, estando vestido. Atende o comunicador. Era a polícia:
- A vizinhança está reclamando do barulho que está saindo desse apartamento. Gostaria de poder averiguar o que ocorre.
            E o Dina, ainda imaturo para essas situações, deixou com que os policiais subissem. Não sem antes de perguntar.
- Tem algum menor de idade aí?
- Eu! - grita Heleninha, fadigada.
- Puta merda... Estamos ralados! A polícia está vindo!
            Um múltiplo “o quê” é dito por absolutamente todos os presentes no apartamento. Em pouco tempo, soa a campainha. Todos se vestem enquanto Dina vai abrir a porta.
- Boa noite, policiais.
- Boa noite, rapaz. Antes de mais nada, qual sua idade?
- Vinte e um, senhor.
- Certo. Depois peço seus documentos. Gostaria de saber o que se passa nesse lugar.
- Nada demais, senhor, apenas uma festinha para poucos convidados.
- Pelo que me relatou sua vizinha do 501, o barulho era de festona.
- Creio que ela exagerou.
- Não foi o que disse o senhor do 403.
- Aquele senhor é um velho rabugento...
- Comporte-se, guri! Vamos entrar e verificar o que ocorre.
- Não, não...
            Mas não consegue impedir. A polícia entra no apartamento e revista o andar de baixo. Encontra Babi sentada na cama de Dina, comportada. Olha-a. Sai em seguida. Resolve subir as escadas que dão na cobertura.
            Lá, Jorginho havia sido retirado e colocado no banheiro. Marcela ainda não havia se trajado e Heleninha e Bola estavam totalmente nus. Correram para trás da porta que dá acesso ao pátio, mas deu tempo apenas para colocarem as roupas íntimas. Os policiais já estavam lá em cima.
- Eu te conheço, mocinha! - apontando o dedo para Márcia.
- Desculpe-me, mas não lembro do senhor.
- Pois eu sim. Voluntários da Pátria, 6 de dezembro de 1999. Porte de drogas. Liberada por falta de provas. Por favor, posso verificar sua bolsa?
- Ela não está aqui.
- Não me faça de palhaço. Dê-me!
            Ela observou a bolsa, mas o policial deu um pulo sobre ela e a apanhou. Tirou a identidade da menina, viu que tinha 19 anos. Tirou a carteira escolar, dinheiro, anti-concepcional, camisinha, agenda e um saquinho plástico. Abriu-o. Pó. Pó branco.
- Dessa vez, gata, foi em flagrante. Façam o teste nessa gurizada toda. Se ninguém tiver se drogado, só vou levar essa doida. A única prova é contra ela. Aparentemente o saco tá fechado. Vamos!
            Assim, os dois acompanhantes fazem a revista. Começam por Toledo, vêem a identidade, não encontram drogas nem demonstra ter ingerido. Faz um pequeno teste e confirma. Logo, faz o mesmo com Marcela. Mesmo encantado com aqueles seios incríveis, o policial faz tudo corretamente.
            Enquanto isso, Heleninha acabava de se vestir e Bola permanecia apenas de cueca, olhando pela fresta da porta, para ver o que ocorria. Nesse tempo, um dos policiais entra no banheiro. Encontra Jorginho desmaiado. Chama o policial responsável. Ele vê a situação e encaminha o garoto para o Pronto Socorro. Logo, o ajudante sai da sala, vai para o terraço e não vê nada. Quando se vira, sente que há algo (e grande) atrás da porta:
- Ora, ora... Vejamos isso! Um gordinho e sua bela acompanhante!
O guri fica vermelho, tamanha vergonha. Ele é revistado e nada demais encontram. Já na rapariga, atesta-se sua baixa idade. É encaminhada à Fase. De lá, seriam seus pais avisados sobre a situação.
            Ao final, Jorginho, Helena e Márcia foram levados. Cada um para um lugar. E nem desconfiaram que as meninas que restaram também eram prostitutas. Aliás, nem descobriram que as outras eram. Babi e Marcela olharam para seus parceiros e logo dispararam:
- E nossos cachês, little boys?
            Dina e Toledo empalideceram. Não sabiam nem quanto deveriam pagar. Sabiam, apenas, que aquela tinha sido uma noite que nunca iriam esquecer, tamanha loucura fora. Apesar do infeliz final, foi uma noite de intenso prazer. De muita música. De belas garotas. E de uma grande dívida.